CORREÇÃO DAS ATIVIDADES DE SOCIOLOGIA - APOSTILA 1 (aulas 4, 5 e 6)
AULA 4
Exercícios
1. Entre as seis sarcásticas máximas de Brás Cubas, há uma que pode servir para ilustrar uma das discussões habituais entre os antropólogos. Que máxima é essa?
“Não se compreende que um botocudo fure o beiço para enfeitá-lo com um pedaço de pau. Esta reflexão é de um joalheiro.”
2. Essa máxima revela um preconceito cultural. Explique-o.
A referência aos grupos indígenas que usam enfeites de madeira em furos no lábio inferior mostra a incompetência do joalheiro em reconhecer a alteridade, ou seja, a ideia de que as culturas humanas são diferentes entre si. Talvez ele quisesse vender adereços de ouro ou prata a esses botocudos, o que nos faz pensar se esse preconceito cultural não esconderia, na verdade, um interesse econômico.
Tarefa mínima
1. Do ponto de vista numérico, os homens eleitores podem ser considerados ampla maioria no país? Justifique com dados estatísticos.
Não. O Quadro 2 mostra que, em 2000, o número de eleitores é praticamente o mesmo do de eleitoras, o que sugere igualdade numérica entre homens e mulheres no país.
2. De acordo com pesquisas de opinião, quem se sai melhor atuando em cargos públicos: homens ou mulheres? Justifique.
De acordo com o Quadro I, as mulheres são consideradas mais honestas, responsáveis, confiáveis, competentes, firmes e capazes do que os homens, quando ocupam cargos públicos.
3. De acordo com os conceitos antropológicos de maioria e minoria, como explicar o número tão pequeno de mulheres em posições de destaque na sociedade, como mostra o Quadro 3?
Embora as mulheres não sejam minoria do ponto de vista numérico, elas ainda o são no que diz respeito à capacidade de mobilizar-se socialmente, de fazer valerem suas reivindicações, de exigir o cumprimento dos seus direitos. É claro que isso ainda é resquício de uma sociedade machista, que impediu – e, em muitos casos, ainda impede – as mulheres de ter as mesmas
oportunidades do que os homens. Mas o fato é que, do ponto de vista científico, as mulheres são minoria, na medida em que seu poder de pressão social ainda é, injustamente, menor do que o dos homens.
Tarefa complementar
Há várias possibilidades de resposta. Pode-se pensar em que medida o conhecimento da realidade do outro (sem os habituais preconceitos) é necessário num país como o nosso, marcado pela diversidade cultural e pelas diferenças sociais (que, vale lembrar, são também raciais)? Em que medida a educação poderia participar desse processo? São válidas ações governamentais que tentam propor uma maneira de resolver o problema. A Leitura complementar também pode ajudar na discussão, fornecendo os elementos teóricos.
Leitura complementar
Em sua obra mais conhecida, Tristes Trópicos, Claude Lévi-Strauss comenta a paisagem que observou na estrada de Santos (SP). O trecho abaixo, que pode ser trabalhado como atividade extra, mostra uma tentativa de não julgar a realidade do outro segundo seus próprios valores:
"O viajante europeu fica desconcertado com essa paisagem que não se enquadra em nenhuma de suas categorias tradicionais. Ignoramos a natureza virgem, nossa paisagem é ostensivamente subjugada ao homem; às vezes, parece-nos selvagem, não porque o seja de fato, mas porque as trocas se produziram num ritmo mais lento (como na floresta), ou então – nas montanhas – porque os problemas surgidos eram tão complexos que o homem, em vez de dar-lhes uma resposta sistemática, reagiu no correr dos séculos por meio de uma profusão de diligências no nível dos detalhes; as soluções de conjunto que as resumem, jamais claramente desejadas ou pensadas como tais, lhe parecem, vistas de fora, ter um aspecto primitivo. São consideradas como uma autêntica selvageria da paisagem, conquanto resultem de um encadeamento de iniciativas e de decisões inconscientes".
AULA 5
Exercícios
1. Qual a situação desses dois moradores de rua em relação aos três critérios para a análise da estratificação social propostos por Weber?
Tanto na ordem econômica, quanto na social e na política, os dois moradores de rua podem ser considerados marginalizados. Isso porque eles praticamente não possuem bens (quando muito, têm duas mudas de roupa), não pertencem a nenhum estamento específico e não parecem vinculados a partidos políticos.
2. A partir da leitura dessa reportagem e de acordo com sua resposta na questão 1, o que se pode concluir sobre as classes sociais no Brasil?
No Brasil, ao mesmo tempo em que há pessoas morando em vãos de viadutos, há outras que dispõem de milhares de dólares para gastar em dez dias. Isso só mostra que há um abismo gigantesco entre as classes sociais privilegiadas e os marginalizados socialmente.
Tarefa mínima
1. De acordo com esse trecho, qual seria o objetivo do romance? Que classe social está sendo valorizada?
O objetivo do romance parece ser o de imortalizar os operários – isto é, a classe dos trabalhadores –, representar com dignidade essa multidão de miseráveis, dando- -lhes a voz que eles não tiveram no século XVIII.
2. Como explicar, sociologicamente, a passagem “enquanto não se acabar quem trabalhe, não se acabarão os trabalhos”?
Neste trecho, estabelece-se uma curiosa relação de causa e efeito entre os operários submissos (“quem trabalhe”) e a exploração (“os trabalhos”). O normal seria pensar que os trabalhos são a causa de haver trabalhadores, mas o narrador promove uma inversão, de maneira que, para ele, enquanto houver disposição para a exploração haverá quem explore. Assim, a culpa da exploração não seria exatamente dos exploradores, mas dos explorados, que não se revoltam contra sua condição.
Tarefa complementar
1. Em sua opinião, como se explica que um grupo minoritário consiga subjugar a maioria da população por tanto tempo, como ocorreu na África do Sul? (A Leitura Complementar poderá ajudá- lo a desenvolver sua resposta.)
Não há resposta fechada, mas há pelo menos dois posicionamentos possíveis diante da questão: um a favor da ideia de Weber (desenvolvida na Leitura Complementar) de que a dominação só existe porque os dominados assim o permitem, e outro contra ela. Para argumentar a favor dessa ideia, o aluno poderá lembrar que, assim que os dominados reagem à dominação, ela começa a ruir. Para argumentar contra, o aluno poderá dizer que, em geral, os dominadores detêm o poder econômico e político, o que dificulta muito a luta por liberdade, ainda mais quando a dominação está legalmente instituída, caso da África do Sul durante os anos de apartheid.
2. Embora o Brasil seja conhecido pelo multiculturalismo e pela miscigenação, sabe-se que nosso país figura entre os mais excludentes do mundo, a ponto de muitos já terem afirmado existir aqui uma espécie de apartheid social (que, de certa forma, é também racial). Você concorda com essa afirmação? Procure sustentar sua opinião com argumentos convincentes.
Novamente a resposta não está fechada e há dois posicionamentos “principais”: a favor da afirmação e contra ela. Certamente não faltarão argumentos ao aluno que se posicionar a favor da ideia. Ele poderá lembrar da injusta concentração de renda, da falta de acesso da população mais pobre a serviços básicos, como saúde, educação, transporte, e da dificuldade de se mudar essa situação (o que provaria que a exclusão já foi “incorporada” pela sociedade, embora não seja “oficial”). O aluno que se posicionar contra poderá dizer que justamente o fato de a exclusão não ser “oficial”, isto é, legitimada por leis, faz toda a diferença porque possibilita a luta das minorias excluídas por seus direitos, sem que tenham que pagar por isso com a própria vida.
AULA 6
Exercícios
1. O que esse ranking revela sobre a instituição social da propriedade privada?
Revela que a propriedade privada está a tal ponto enraizada na sociedade capitalista que a “liberdade econômica” de um país dependeria, diretamente, do respeito à propriedade privada.
O relatório anual do Fraser Institute respeita o direito que cada país tem de escolher a melhor forma de estruturar sua economia e sua sociedade? Por quê?
Não. O instituto canadense avalia a “liberdade econômica” a partir dos valores da sociedade globalizada, como se os países não tivessem possibilidade de optar por outros modos de organização socioeconômica. Dessa forma, desconsidera a hipótese de um país não valorizar a propriedade privada.
2. Calvin
Sobre a tirinha, leia as afirmações que seguem:
I. O humor da tira se deve, principalmente, ao absurdo da pergunta de Calvin – “Será que eu meto medo?” –, já que não há motivos para que uma criança seja vista como ameaça.
II. A tira ironiza o processo de socialização, por meio do qual um indivíduo absorve os valores de determinada sociedade, passando, enfim, a pertencer a ela.
III. O autor nos faz pensar criticamente sobre os valores que a sociedade capitalista tem passado às futuras gerações, dentre eles o consumismo desenfreado, o cinismo e a alienação.
Está correto o que se afirma em:
a) ( ) apenas I.
b) ( ) I, II e III.
c) ( ) apenas I e II.
d) ( X ) apenas II e III.
e) ( ) apenas I e III.
A afirmação I está incorreta, já que, no caso, Calvin está simbolizando todas as crianças de sua geração, educadas segundo princípios que nos fazem temer o futuro: afinal, o que elas farão quando chegarem ao poder? Assim, há motivos de sobra para que se tenha medo, não exatamente da personagem, mas do que ela representa. As demais afirmações estão corretas.
Tarefa mínima
1. De acordo com Rousseau, a propriedade privada surgiu de uma hora para outra na história da humanidade? Justifique sua resposta.
Não. Para Rousseau, a ideia de propriedade “não se formou repentinamente no espírito humano”, pois se originou “de muitas ideias anteriores que só poderiam ter nascido sucessivamente”.
2. Que avaliação o filósofo francês faz daqueles que aceitaram as imposições da propriedade privada, quando ela surgiu?
Uma avaliação negativa, uma vez que as pessoas são consideradas “suficientemente simples” para acreditar que alguém tinha o direito de cercar um terreno e dizer “isto é meu”. Para Rousseau, não ter aceitado essa nova situação nos teria poupado de inúmeros “crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores”.
Tarefa complementar
Não há resposta fechada. A discussão proposta, a partir do texto de Proudhon, pode apresentar opções variadas de argumentação por parte dos alunos.
Alguns argumentos contrários às idéias de Proudhon:
• Até aqui os homens não conseguiram organizar satisfatoriamente a vida social e progredir, senão com base na propriedade privada.
• A propriedade privada é justa porque foi conquistada com trabalho e sacrifício pelos antepassados.
• A propriedade privada é boa porque estimula a concorrência de mercado, que é o maior incentivo ao desenvolvimento.
• As próprias noções de segurança e liberdade têm como ponto de partida a propriedade privada: deve-se garantir a segurança do indivíduo em relação a quê, senão ao que ele possui? A sua liberdade refere-se a quê, senão a ser o que quiser e a ter o que quiser? O conceito de igualdade não pressupõe a posse de algo (todos devem ter o direito de possuir as mesmas coisas)?
• As tentativas históricas de se estabelecerem regimes “igualitários” (comunistas ou socialistas) fracassaram. Observem-se a euforia dos alemães orientais diante das vitrines na Berlim ocidental ou as tentativas de fuga de atletas e artistas cubanos que se apresentam em países capitalistas.
Alguns argumentos favoráveis às críticas de Proudhon:
• O direito à propriedade privada tem sido utilizado como justificativa para a manutenção de desigualdades injustificáveis (como a concentração de riquezas e de terras).
• Vivemos numa civilização que estimula o individualismo e o consumismo (a vontade de ter cada vez mais), em detrimento das ações coletivas e da solidariedade.
• A propriedade que, assim como o dinheiro, parece ser “natural” não passa de uma instituição social, ou seja, de uma convenção coletiva que pode ser mudada.
• A propriedade privada dos meios de produção impõe aos que não a têm a submissão aos possuidores. E esta é a base das classes sociais e da exploração do trabalho.
• A propriedade privada impede a igualdade nas relações políticas de poder. Evidentemente, o tema não está esgotado e voltará e ser discutido em outras aulas.